domingo, 15 de dezembro de 2013

Efeitos neurológicos da maconha

  Planta herbácea de clima quente e úmido, originária da Índia, a maconha (Cannabis sativa) pertence à família Moraceae. Farmacologicamente, o principal constituinte psicoativo desse tipo de planta é o tetrahidrocanabinol (THC), um dos 400 compostos da planta, incluindo outros canabinoides, como o canabidiol (CBD), canabinol(CBN), e tetrahidrocanabivarin (THCV). O THC é semelhante amandamida, que é um composto presente pelo organismo de alguns animais.

Estrutura química do Tetra-hidrocanabinol (THC)
Fonte: http://www.brasilescola.com/drogas/maconha.htm



     Quando ocorre a inalação da fumaça, a Cannabis pode produzir vários efeitos subjetivos em humanos: euforia, disforia, sedação, alteração da percepção do tempo, aumento da interferência na atenção seletiva e no tempo de reação, alteração nas funções sensoriais, prejuízo de controle motor, do aprendizado e prejuízo transitório na memória de curto prazo, além de efeitos neurovegetativos como boca seca, taquicardia e hipotensão postural. Efeitos adversos incluem crises de ansiedade, ataques de pânico e exacerbação de sintomas psicóticos existentes.

     Os produtos naturais encontrados na maconha ligam-se aos receptores de canabinóides, que são receptores acoplados a proteína G cujo ligante endógeno é a amandamida, um derivado do ácido araquidônico. Os dois receptores de canabinóide conhecidos são denominados.CB1 e CB2. A anandamida possui propriedades bioquímicas e farmacológicas semelhantes ao THC, encontrado na maconha.

              Estrutura química da Anandamida e do 2-glicerol araquidonii (2AG)

Fonte: Honório et all, 2004

     Os receptores canabinóides  CB1 estão distribuídos em muitas áreas do sistema nervoso central, principalmente nos gânglios basais, cerebelo, hipocampo, córtex, amígdala e núcleo acumbens. Já os receptores CB2 estão localizados em áreas periféricas como, por exemplo, células do sistema imunológico. Em relação aos demais neurotransmissores, seus níveis no cérebro são semelhantes aos de dopamina e serotonina, mas bem menores que os de GABA e glutamato. 

Esquema da localização dos receptores CB1
Fonte:http://saude.hsw.uol.com.br/maconha3.htm

    Assim, ao inalar a fumaça da maconha, o THC vai diretamente para alvéolos sendo absorvidos facilmente. Minutos depois de inalado, o THC cai na corrente sanguínea, chegando até o cérebro. O THC se liga aos receptores canabinoides e ativa os neurônios, influenciando de forma adversa o cérebro. A interação do THC com o cérebro pode causar sentimentos relaxantes, como sensação de leveza, sendo que outros sentidos também podem se alterar.



Fontes:



MARIA, Honório Káthia; AGNALDO, Arroio. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422006000200024&script=sci_arttext





Acessado em 15 de dezembro de 2013.



sábado, 14 de dezembro de 2013

O parasitismo da Vespa-jóia

    A Ampulex compressa (vespa-joia) é um parasita específico da barata Periplaneta americana, o ataque e a injeção do veneno da vespa na barata se dar por movimentos precisos e coordenados, o que garante a completa inanição da barata, garantindo o desenvolvimento das larvas de Ampulex dentro do corpo desta.


Vespa-jóia



O ataque é composto por duas picadas. A primeira dá-se no Gânglio torácico, cujo veneno é injetado pela primeira vez, ocasionando à perda do movimento das pernas dianteiras da barata. O veneno da vespa é composto por grandes quantidades de acido gama-amino-bultríco (GABA), Taurina e Beta-alanina. A mistura bloqueia temporariamente os potencias de ação dos movimentos da barata, através do declínio da ação dos canais de sódio e cloro, comprometendo a condução iônica através do axônio, resultando na perda das sinapses nervosas. Individualmente, estas substâncias induzem o estado de paralisia da barata. A ação dessas em conjunto se mostra mais eficazes, o GABA é responsável pela ativação dos canais de Sódios e Cloro por ligar-se aos receptores GABA, nos neurônios, a Taurina e a Beta-alanina prolongam a duração do efeito paralisante, diminuindo a absorção do GABA na fenda sináptica. Combinados, esse coquetel de substancias paralisa e impede a barata de mover-se e defender-se enquanto a vespa se prepara para a segunda picada.

Ataque da vespa-joia.

A segunda picada se dá em locais precisos no gânglio subesofágico (SEG) situado próximo à cabeça da barata, na seção que controla a fuga e o reflexo. As neurotoxinas do veneno da vespa causam um bloqueio na transmissão sensitiva da substância responsável pelo movimento, a dopamina. A dopamina é um neurotransmissor sintetizado em áreas do sistema nervoso central e periférico, e assim que formada, é encapsulada em vesículas para posteriormente ser liberada durante a sinapse, ela possui a função ligada ao movimento, a memória, a atenção, a recompensa agradável, dentre outras. Tais vesículas encontram-se concentradas no terminal axônico, e quando os impulsos nervosos chegam a esse terminal, os neurotransmissores são liberados por meio da exocitose. Para ocorrer a sinapse é necessária a transferência dos neurotransmissores da membrana pré-sináptica para a membrana pós-sináptica. Como resposta a tal, a barata primeiro irá se debater, e em seguida, esses movimentos tornarão-se mais lentos até a mesma não apresentar respostas normais de defesa e fuga. A ação dessa segunda picada se dá, também, sobre o neurotransmissor octopamina, bloqueando seus receptores – estes responsáveis pelo controle dos movimentos e sensações (semelhante a dopamina, em humanos). Ao bloquear a octopamina o veneno da vespa jóia, impede que a sinapse química ocorra ao impossibilitar que os impulsos nervosos passem de um neurônio pré-sinático para o neurônio pós-sinático na fenda sináptica por meio do neurotransmissor químico, semelhante a dopamina. Desse modo, os componentes do veneno afetam diretamente os neurônios no cérebro que modulam as sinapses no tórax, o que faz com que a barata primeiramente apresente um comportamento de limpeza, e em seguida entre em um estado que é caracterizado por pouca, ou nenhuma, atividade locomotora espontânea o que torna o metabolismo lento e insensível a diversos estímulos. 



Transferência dos neurotransmissores da membrana pré-sináptica para a membrana pós-sináptica.


Deste modo a barata fica a mercê da vespa, que a carrega para a sua toca, deposita seu ovo na axila da barata, e dali eclodirá em poucos dias uma larva que se alimentará da barata viva, porem em estado de metabolismo basal (zumbi), imóvel e indefesa, até que todos os seus órgãos sejam consumidos pela larva e esta desenvolva-se em uma nova vespa joia.









Fonte:
<http://agencia.fapesp.br/12532>
<http://www.guiasdeneuro.com/pt/farmacologia-gabaergica/>
<http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_gama-aminobut%C3%ADrico>
<http://aranne5.lib.ad.bgu.ac.il/others/GalRam.pdf>
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u647490.shtml>
<http://www.news-medical.net/health/Dopamine-Functions-(Portuguese).aspx>
<http://www.news-medical.net/health/What-is-Dopamine.aspx>
<http://www.unirio.br/farmacologia/aulas%20fisiologia/2.%20sistema%20nervoso/INTRODU%C3%87%C3%83O/APOSTILA%20sinapse%20-%20UNESP.pdf

Acessado em 14 de dezembro

Gal, Ram, Lior Ann Rosenberg, and Frederic Libersat. “Parasitoid wasp uses a venom cocktail injected into the brain to manipulate the behavior and metabolism of its cockroach prey.” Archives of Insect Biochemistry and Physiology 60, no. 4 (2005): 198-208. doi:10.1002/arch.20092.

Vacina do sapo, um veneno que pode ser saudável?



     Remédio ou veneno? Uma substância extraída de um sapo da Amazônia vem sendo usada como um suposto remédio pra várias doenças, porém não se tem estudos ainda que comprovem se todas as substâncias existentes neste veneno possuem eficácias na medicina.
      A Phyllomedusa bicolor, conhecido popularmente como "Sapo Kambô", é um anfíbio da família Hylidae, famílias das pererecas, encontrado na Amazônia. É conhecido devido a utilização do seu veneno na medicina tradicional. É a maior espécie do gênero, podendo chegar a 11,8 cm de comprimento e também um dos maiores hilídeos da Amazônia.

Sapo Kambô.

O veneno do Kambô é utilizado pelos indígenas como uma forma de medicina natural e acreditam que este veneno fortalece o sistema imunológico e afastar o "Panema" - má sorte. Com a colonização no norte, os seringueiros aprenderam a usar essa técnica e atualmente a aplicação da vacina-do-sapo já ocorre em várias regiões do Brasil. Para aplicar a vacina-do-sapo é necessário queimar o braço e tórax (homens) ou perna (mulheres) com uma ponta de um pequeno cipó fazendo vários pontos. O veneno é então aplicado nessas pequenas queimaduras. Os sintomas são quase imediatos e a pessoa sente um forte calor, náuseas, dor no estômago, vômitos e outros desconfortos. A ação do veneno dura em média 15 minutos.

     

Aplicação da vacina-do-sapo.


     A pele dos anfíbios exerce mais funções além de ser uma estrutura de revestimento, desempenhando principalmente o transporte de água e solutos, auxiliando na respiração, regulação da temperatura corporal e defesa contra o ataque de microorganismos e predadores. Apresentam duas glândulas, uma mucosa que secreta muco para manter a umidade da superfície do muco favorecendo a respiração cutânea; outra granulosa, frequentemente é tóxica ou repelente, é responsável pela defesa passiva dos anfíbios. A secreção das glândulas granulosas apresenta um aspecto viscoso e leitoso e ocorre, normalmente após estresse ou injúria. Esta glândula é controlada por inervação simpática e seu conteúdo é secretado sob regulação neuronal, possivelmente neuropeptídeos. 

     As glândulas granulosas ou de veneno são responsáveis pela síntese e armazenamento de uma grande diversidade de compostos químicos que apresentam propriedades antibióticas e atuam na defesa de microorganismos. Quimicamente, esses compostos, podem ser agrupados em cinco classes: aminas biogênicas, peptídeos, proteínas proteolíticas, alcaloides e esteróides. Estudos feitos com as secreções obtidas da pele de anfíbios, indicaram que representantes das famílias de Hylidade apresentam compostos de aminas, peptídeos e proteínas. 






Ocorrência de compostos bioativos encontrados entre os representantes da anfibiofauna: (+) presente, (-) ausente, (o) ocorrência não avaliada.



As aminas biogênicas são mediadores químicos bastante comuns entre os animais. Apresentam estrutura química e ações farmacológicas bastante diversificadas. Uma dessa estrutura química encontrada na família desse anfíbio é a amina indólica que tem a atividade farmacológica ligada a ação estimulante em musculatura lisa. Assim, os músculos lidos extravasculares são contraídos pela ação dessas substâncias. Podem alterar, também, a função motora do trato gastrointestinal, termorregulação e induz a secreção de catecolaminas pelas glândulas supra-renais. As catecolaminas são representadas pela epinefrina, norepinefrina, dopamina e epinina e apresentam uma ação vasopressora potente causando um aumento nas taxas cardíacas e respiratória. Em altas taxas podem causar espasmos, vômitos e convulsões.

Outra amina encontrada na secreção dos representantes de Hylidae foi às histaminas que podem provocar reações alérgicas como urticária, irritação nas mucosas nasais e oculares, lacrimejamento e espirros.



Estrutura química das aminas encontradas nos anfíbios.



     As substâncias mais abundantes encontrada nos indivíduos de Phyllomedusa bicolor são os peptídeos com características vasoativas -adenoregulina, além desta também foram encontrada substâncias como os peptídeos opióides. Estas substâncias podem provocar um estado de letargia que supera os efeitos da morfina ou apatia duradoura em ratos. Nos humanos não há ainda estudos que comprovem os efeitos causados pelos peptídeos opióides.

     Estes peptídeos apresentam cargas positivas, podendo formar hélices anfifílicas de comprimento variando de um peptídeo para outro, possuindo habilidade de se autopolimerizar formando longos filamentos com os grupamentos hidrofílicos para o interior e os hidrofóbicos em contanto com as partes lipofílicas da membrana.

     Em resumo a parte positiva do peptídeo interage com os fragmentos lipídicos, induzindo a formação de alfa-hélice e polimerização. O complexo supramolecular em alfa-hélice liga-se superficialmente a região hidrofóbica e começa a penetrar a membrana permitindo a entrada dos íons de cloro e o efluxo de hidroxilas e potássio despolarizando a membrana e provocando um potencial de ação. Assim, os indivíduos de Phyllomedusa bicolor obtêm sucesso para seu propósito - a proteção contra indivíduos. Agindo desta forma o veneno desacopla a respiração dos microorganismos resultado na morte destes.


Fonte: 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Tubarões: ótimos caçadores



     Ataques de tubarões podem parecer cruéis mas,  é importante salientar que eles não são criaturas assassinas. Os tubarões, como qualquer outro animal, seguem seus instintos para se alimentarem e se defenderem. A dieta de um tubarão consiste principalmente peixes, tartarugas marinhas, baleias, leões-marinhos e focas e outros animais marinhos com grande teor de gordura.
    Os tubarões pertencem a classe dos Condrictes e à superordem dos Selachimorpha e são assim clasificados por apresentarem um esqueleto cartilaginoso,  que faz com que o corpo seja mais  é flexível tendo cerca de metade da densidade do osso, reduzindo o peso do esqueleto e poupando energia, e um corpo hidrodinâmico. 







Anatomia de um tubarão.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tubar%C3%A3o#Fisiologia

     Para a efetividade dos seus ataques os tubarões apresentam dentes não incorporados no maxilar e que são constantemente trocados ao longo da vida do animal e são distribuídos em diversas fileiras que crescem na parte interna da mandíbula e maxila. Para aumentar a eficácia da mordida, os dentes são serrilhados.

Serrilhas do dente de um tuburação.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tubar%C3%A3o#Fisiologia

    Além dos dentes especializados para caça, os tubarões podem sentir o cheiro de sangue a quilômetros de distância, e, provavelmente, ocorre devido a ao formato e fisiologia do nariz. Assim, conforme o tubarão nada, a água flui através de duas narinas frontais. A água entra pela passagem nasal e passa por dobras de pele cobertas por células sensoriais. As narinas são dois orifícios localizados na região cefálica, que terminam em fundos cegos. Não se comunicam com a faringe, como ocorre na maioria dos peixes ósseos, assim, as narinas têm apenas a função olfativa: um dos sentidos muito desenvolvidos nos tubarões. O odor é percebido por quimiorrecepção: um dos mecanismos sensoriais utilizados para a percepção de presas a grandes distâncias
     As narinas são ricas em terminações nervosas do nervo olfativo. Os dendritos das células olfativas possuem prolongamentos sensíveis. Assim, quando alguma partícula olfativa entra pelas narinas do tubarão, entra em contato com esses prolongamentos sensíveis geram impulsos nervosos, que são conduzidos até o corpo celular das células olfativas, onde atingem os axônios, que se comunicam com o bulbo olfativo. O estímulo é estão levado ao  Sistema Nervoso Central (SNC), onde o processo de sinalização é interpretado e decodificado.

Narinas de um tubarão.
fonte: http://ibimm.dominiotemporario.com/page_43.html 



     Além do olfato aguçado, os tubarões tem uma visão consideravelmente boa. Alguns pesquisadores acreditam que a lente dos tubarões está suspensa por um ligamento dorsal, estando adaptada à visão a distância; para a uma visão mais próxima ela é movida para frente pela tração de um pequeno músculo protrator, fixo à lente. Seus olhos por ficarem nas laterais da cabeça podem ampliar seu campo de visão para quase 360°. Entretanto, por estarem separados, os tubarões não tem noção de profundidade, possuindo uma visão mais plana.
     Os olhos possuem uma camada refletiva, a qual permite um aproveitamento superior da luminosidade em locais com pouca luz, como as águas turvas ou profundas e à noite. A essa estrutura da-se o nome de tapetum lucidum. O tapetum lucidum é uma agrupamento de células que contêm cristais de guanina e estes cristais agem como espelhos refletindo a luz de volta para a retina, aumentando as chances de uma maior absorção luminosa.
     


Tipos de olhos no tubarão
Fonte: http://ibimm.dominiotemporario.com/page_43.html

    Apresentam também uma grande sensibilidade às vibrações devido ao ouvido interno, responsável pelo equilíbrio e detecção das vibrações de baixa frequênciaPossui três canais semicirculares e detecta vibrações a longas distâncias, podendo o tubarão se aperceber do som de um peixe a debater-se a uma distância de 250 a 600 m.


Um dos três canais semicirculares do ouvido interno.
Fonte: http://ibimm.dominiotemporario.com/page_43.html

A linha lateral com poros e células eletrorreceptoras também é capaz de captar vibrações, correntes, alterações de temperatura e pressão da água. Sendo capaz até de localizar obstáculos e alimentos em água turvas. As células eletroreceptoras podem captar correntes elétricas produzidas por tecidos ativos de presas próximos. 
     Próximo aos poros há os neuromastos, células eletroreceptoras ciliadas que estão ligadas ao neurônio. Quando recebem um impulso elétrico, essas células se despolarizam levando a mensagem para o encéfalo.

 


Esquema da linha lateral
Fonte: http://salabioquimica.blogspot.com.br/2011/09/desenvolvimento-do-tubarao-e-orgaos.html

Ainda como um sexto sentido, esses animais apresentam milhares de detectores especializados em seu focinho chamados ampolas de Lorenzini e são formados por uma rede de canais com electro-receptores cobertos uma substância gelatinosa. Quando há um estímulo externo a célula sensorial reage a partir de  um pequeno potencial elétrico em sua membrana, levando os canais a permitir a entrada de íons de cálcio de carga positiva. O afluxo de carga positiva faz com que a célula libere neurotransmissores nas sinapses, ou pontos de contato, dos nervos para o cérebro, estimulando sua ativação. A taxa de estímulos indica a força e a polaridade do campo externo, enquanto sua localização relativa ao tubarão é supostamente determinada pela posição dos poros ativados em seu corpo. As células retornam ao seu estado original após a abertura de um segundo tipo de canal de membrana, que permite que a saída dos íons de potássio de carga positiva.
                                                                Ampola de Lorenzini.




quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sinalização Celular

    Para adentramos na sinalização celular, vamos relembrar um pouco sobre o sistema nervoso que é um tecido originado da placa neural, uma área diferenciada da ectoderme. Antes da 4º semana de gestação, a placa neural forma o tubo neural que sofre uma dilatação na região rostral ou anterior dando origem ao encéfalo. Nos pontos de encontro ou fechamento das extremidades da placa neural, no recém formado tubo neural, forma-se a crista neural que dá origem a componentes que a neuro-anatomia nomina como elementos periféricos e componentes celulares gliais.


Formação do tubo neural.Fonte: http://bruno89.wordpress.com/2008/10/15/122/




  O Sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC), que está contido no canal vertebral e crânio, ou seja, o encéfalo e a medula espinhal e é onde as informações são recebidas e analisadas, ou seja, é o local onde ocorre as decisões e o envio de ordens; e sistema nervoso periférico (SNP), encontrado fora deste estojo ósseo, sendo os nervos (axônios) e gânglios e, carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e glândulas).

Sistema nervoso centralFonte: http://www.sogab.com.br/apostilasistemanervoso.pdf





Sistema Nervoso Periférico
Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso4.asp


    Entretanto  o sistema nervoso funcionalmente pode divide-se em somático, que lembra o sistema nervoso que atua em todas as relações que são percebidas por nossa consciência; e em visceral ou vegetativo aquele interage de forma inconsciente, no controle e na percepção do meio interno e vísceras. Tanto o somático quanto o egetativo, possuem componentes aferentes (sensitivos) e eferentes (motores). 
    No SNC, existem as chamadas substâncias cinzenta, formada pelos corpos dos neurônios, e  substância branca, formada pelos prolongamentos dos neurônios. A unidade funcional e estrutural do sistema nervoso é o neurônio ou célula nervosa. São os neurônios que fazem a ligação entre as  células receptoras dos diversos órgãos sensoriais e as células efetoras, nomeadamente músculos e glândulas. Os neurônios são células muito especializadas que apresentam um ou mais prolongamentos, ao longo dos quais se desloca um sinal elétrico e a função é receber, processar e enviar informações. Podem ser classificados, com base no sentido em que conduzem impulsos relativamente ao sistema nervoso central, em: neurônios sensoriais ou aferentes - os que transmitem impulsos do exterior para o sistema nervoso central; neurônios motores ou eferentes - os que transmitem impulsos do sistema nervoso central para o exterior; neurônios de conexão - os que conduzem impulsos entre os outros dois tipos de neurônios. 
    Os neurônios apresentam um corpo celular ou pericário que contém o núcleo e o citoplasma, onde estão contidos ribossomas, retículo endoplasmático granular e agranular e aparelho de Golgi, assim sintetiza todas as proteínas neuronais e realiza a maioria dos processos de degradação e renovação de constituintes celulares. Do corpo celular partem prolongamentos, denominado dendritos e axônios. 
    Os dendritos apresentam  as mesmas organelas citoplasmáticas do pericário. Traduzem os estímulos recebidos em alterações do potencial de repouso da membrana, que envolvem entrada e saída de determinados íons, causando pequenas despolarizações (excitatória) ou hiperpolarizações (inibitória). Os potenciais gerados nos dendritos se propagam em direção ao corpo e, neste, em direção ao cone de implantação do axônio. 
    O axônio é prolongamento longo e fino que pode ter origem de corpo ou de um  dendrito principal, a partir de uma região denominada cone de implantação. Possui membrana plasmática, denominada axolema, e citoplasma, axoplasma. O axônio é capaz de gerar alteração de potencial de membrana (despolarização de grande amplitude) denominada potencial de ação ou impulso nervoso, e conduzi-lo até a terminação axônica, local onde ocorre a comunicação com outros axônios ou células efetuadoras. O local onde é gerado o impulso é chamado zona de gatilho. Esta especialização de membrana é devido à presença de canais de sódio e potássio, que ficam fechados no potencial de repouso, mas que se abrem quando despolarizações os atingem. Como os axônios não possuem ribossomas, toda a proteína necessária à manutenção destes deriva do pericário, e para que haja a renovação dos componentes das terminações é necessário um fluxo oposto, em direçãocão corpo. Esse fluxo de substâncias e organelas através do axoplasma é denominado fluxo axoplasmático. 



Neurônio e suas divisões.


     Os neurônios são células altamente excitáveis que se comunicam entre si ou com células efetuadoras como por exemplo: células musculares, usando basicamente as alterações do potencial de membrana. A membrana celular separa o meio intracelular, onde predominam íons com cargas negativas e certa quantidade do íon potássio (K+), do meio extracelular, onde predominam cargas positivas, Sódio (Na+), Cálcio (Ca+) e certa quantidade do íon Cloro (Cl-). Essa diferença de cargas entre o meio intracelular e extracelular estabelece um potencial elétrico de membrana, que, como vimos no post anterior, é de aproximadamente -70mv, quando o neurônio está em repouso. Na membrana estão presentes canais iônicos seletivos, que se abrem ou fecham, permitindo a passagem de íons de acordo com o gradiente de concentração. 
    As fibras nervosas têm a função de propagar impulsos rápidos, e de transmiti-los à célula a próxima célula, através das sinapses. As sinapses podem acontecer entre dois neurônios, entre célula sensorial e neurônio ou entre neurônio e órgão efetor (músculo ou glândula). Assim, o impulso é captado pelos dendritos, passa ao corpo celular e deste para o axônio, que o envia para a célula seguinte.  
   No estado de repouso, o neurônio encontra-se polarizado, ou seja, o interior está carregado mais negativamente que o exterior. Ao atingir a membrana celular, o estímulo altera a permeabilidade aos íons Na+ e K+ no ponto excitado, permitindo assim, um influxo de íons sódio e a saída de íons potássio. Neste momento ocorre a despolarização, ou seja, diminui a negatividade no interior da célula. A entrada inicial de íons Na+  provoca a abertura de canais para esses íons nos segmentos seguintes, de modo que o processo se repete e o impulso nervoso se transmite através de todo o neurônio. Em alguns casos, a união de neurônios é tão estreita que a onda de despolarização passa diretamente do axônio de um neurônio a um dendrito do neurônio seguinte, o que se denomina sinapse elétrica. As sinapses elétricas são exclusivamente entre neurônios e raras em vertebrados. A comunicação entre dois neurônios se dá através de canais iônicos presentes em cada uma das membranas em contato, que permitem a passagem direta de pequenas moléculas do citoplasma de uma das células para o da outra.


Despolarização e repolarização do neurônio.
Fonte: http://www.cabuloso.xpg.com.br/Anatomia-Humana/Sistema-Nervoso-SNC/foto/Nervos46.jpg


  Nas sinapses químicas, que ocorre mais frequentemente, o sinal elétrico que chega à terminação axônica, provoca a liberação de neurotransmissores (mensageiros químicos presentes no interior de vesículas na terminação axônica). Ao atingir a terminação axônica, o potencial de ação faz com que as vesículas se fusionem com a membrana da terminação, liberando os neurotransmissores que estavam contidos para a fenda sináptica (espaço virtual entre o neurônio e a célula efetora). Ao serem liberados na fenda sinóptica, os neurotransmissores se ligam a receptores específicos presentes na membrana da célula pós-sináptica (célula efetora). A ligação do neurotransmissor com o seu receptor específico, gera uma alteração no potencial de membrana da célula efetora, transmitindo o impulso nervoso e gerando uma resposta . Podemos então concluir que a transmissão do impulso implica a transformação de um sinal elétrico em um sinal químico que, posteriormente, é transformado em um outro sinal elétrico. 
   A sinapse química sempre apresenta um elemento pré-sináptico, que armazena e libera o neurotransmissor, um elemento pós-sináptico, que contém o receptor, e uma fenda sináptica, que separa as duas membranas. Desta maneira, na célula pré-sinaptica, há a membrana pré-sináptica, que apresenta projeções densas que mantém de forma organizada as vesículas sinápticas e na célula pós-sináptica, há a membrana pós-sináptica, que possui os receptores específicos para os neurotransmissores. 
     Os axônios são cobertos por uma membrana denominada bainha de mielina, que possui a característica de isolante elétrico, impedindo que as cargas elétricas se dispersem. Assim, condução do impulso nervoso nas fibras mielínicas (com bainha de mielina) e amielínicas (sem bainha de mielina) difere na sua velocidade, sendo maior nas mielínicas. No trajeto do axônio, há regiões chamadas nódulos de Ranvier, em que a bainha de mielina é interrompida, gerando assim a condução saltatória, nos quais o impulso nervoso é transmitido, aos saltos, de um nódulo de Ranvier ao outro, ao longo da fibra (axônio). 

Bainha de mielina

     Quando um impulso nervoso atinge a membrana pré-sináptica há uma alteração no  potencial,  estimulando a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica, que atinge os receptores da célula pós-sináptica. Estes receptores podem ser canais iônicos que se abrem quando em contato com o neurotransmissor, permitindo a entrada ou saída de determinados íons. A movimentação de íons, tanto para dentro, quanto para fora, causa alterações no potencial de membrana. Quando o receptor não é um canal iônico, a sua combinação com o neurotransmissor gera uma nova molécula chamada de segundo mensageiro, que causará modificações na célula pós-sináptica. 
     Após o contato com o receptor, é necessário que o neurotransmissor seja removido da fenda sináptica para que não haja excitação ou inibição por tempo prolongado. Essa remoção pode ser feita por ação enzimática ou por recaptação pela membrana pré-sináptica; e uma vez dentro da terminação nervosa, o neurotransmissor pode ser reutilizado ou inativado.


Sinapse química.

Fonte: http://www.geocities.ws/ctv10ano/sinapse.jpg


Alguns neurotransmissores: 

  • Endorfinas e encefalinas: bloqueiam a dor, agindo naturalmente no corpo como analgésicos. 
  • Dopamina: neurotransmissor inibitório derivado da tirosina. Produz sensações de satisfação e prazer.
  • Serotonina: neurotransmissor derivado do triptofano regula o humor, o sono, a atividade sexual, o apetite, as funções neuroendócrinas, temperatura corporal, sensibilidade à dor, atividade motora e funções cognitivas. 
  • GABA (ácido gama-aminobutirico): principal neurotransmissor inibitório do SNC. Ele está presente em quase todas as regiões do cérebro, embora sua concentração varie conforme a região. Está envolvido com osprocessos de ansiedade. Seu efeito ansiolítico seria fruto de alterações provocadas em diversas estruturasdo sistema límbico, inclusive a amígdala e o hipocampo. A inibição da síntese do GABA ou o bloqueio de seus neurotransmissores no SNC, resultam em estimulação intensa, manifestada através de convulsõesgeneralizadas. 
  • Ácido glutâmico ou glutamato: principal neurotransmissor estimulador do SNC. A sua ativação aumenta a sensibilidade aos estímulos dos outros neurotransmissores. 





FONTES:
Dias, P. F; Schneider, C. Apostila de Sistema Nervoso. Escola massoterapia. SOGAB. Link para download: http://www.sogab.com.br/apostilasistemanervoso.pdf. Acessado em 4 de dezembro.

Nishida, S. Mecanismo de comunicação entre os neurônios e dos neurônios com órgãos efetuadores.
Departamento de Fisiologia, UNESP - Botocatu. Link para downloads: http://www.slideshare.net/DeniseCarvalho5/apostila-sinapse-unesp. Acessado em 4 de dezembro.




sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Células excitáveis

     As a atividade biológica envolve reações químicas, elétrica, mecânica (movimentos, comportamentos), térmica (especialmente nos vertebrados endotérmicos) e até luminosa (bioluminescência). Em vertebrados, os efeitos bioeléticos podem exercer uma função central e são observados em três tecidos: o neural, o muscular e o endócrino. Alguns peixes utilizam a bioletricidade para ataque/defesa em órgãos sensoriais. 
Na membrana celular onde, há uma diferença de cerca de 2 potencial (DDP) elétrico entre o meio intracelular e extracelular, mantendo a célula em potencial de repouso ou Potencial de Membrana.
Não há elétrons livres movimentando-se nas células dos tecidos biológicos, as cargas elétricas então, estão presentes nos íons de compostos dissociados no meio aquoso no meio intracelular e extracelular célula. Assim, o potencial de repouso acontece devido a distribuição desigual dos íons em solução nos dois lados da membrana.
As células excitáveis (neurônios, miócitos e células endócrinas) quando ativadas, o potencial muda de valor e sai do repouso elétrico e, por um breve período, o interior da célula fica positivo, e o exterior, negativo; então, rapidamente, a membrana da célula retorna o seu potencial de repouso, o que causa uma diferença de potencial. Este processo, com suas fases de despolarização e repolarização, envolve correntes elétricas (iônicas) transmembrana. 
Não se pode falar em potencial elétrico sem explicar a membrana plasmática, cujo modelo atualmente aceito do mosaico fluido foi formulado por Singer e Nicholson (1972). Este modelo destaca que, além dos lipídios, estão presentes as proteínas de membrana, distribuídas em meio aos lipídios constituindo o “mosaico”. A palavra “fluido” descreve o fato de que, apesar da estabilidade estrutural das membranas em duas camadas lipídicas, todos os lipídios são livres para deslocar-se lateralmente. As proteínas integrais trespassam ambas as camadas lipídicas, mas também podem mover-se lateralmente. Também encontramos glicídios ligados a lipídios e proteínas, geralmente na face extracelular (constituindo o glicocálice). A maioria dos lipídios que constituem as membranas são fosfolipídios, mas também temos glicolipídios, esfingolipídios e esteróis, como o colesterol. 
       Modelo do mosaico fluido das membranas plasmáticas

A membrana tendo um interior hidrofóbico, a não ser que sejam pequenas e rápidas, as moléculas polares não conseguem penetrá-la. As moléculas apolares, porém, passam pela matriz lipídica das membranas sem dificuldades. A maioria dos principais nutrientes bioquímicos, contudo, é de moléculas polares não tão pequenas, e estas necessitam adentrar as células; o mesmo é válido para os íons, que, por apresentar carga elétrica inteira, também não conseguem passar diretamente pelo interior hidrofóbico das membranas. Portanto, para que estas substâncias consigam entrar na célula, existem os carreadores e os canais iônicos seletivos.
Tanto no meio extracelular quanto no meio intracelular há a disponibilidade de íons móveis, que dependem da existência de canais transmembrana específicos para circular entre o meio externo e interno. Macromoléculas eletricamente carregadas, contudo, predominam apenas no interior das células, como é o caso das proteínas aniônicas, incapazes de atravessar a membrana. Nas células apenas o K+ é permeável através da membrana, geralmente saindo da célula, seguindo seu gradiente de concentração. As células excitáveis são caracterizadas primariamente por serem permeáveis a mais de um íon. Nelas, além do K+, também o Na+ e o Cl- passam pela membrana através de canais seletivos próprios para cada tipo. O que vai diferenciá-los é apenas a taxa de vazamento que cada íon exibirá, ou seja, sua permeabilidade, fator que é determinado pelo número de canais disponíveis: quanto mais portas de saída, mais “fácil” será para um íon “vazar”. Nestas células, apesar do cenário mais complicado que no caso da glia, o K+ ainda é o principal íon difusível, uma vez que tem a maior permeabilidade, e, como está mais concentrado dentro das células, tende a sair através de seus canais de vazamento da mesma forma que faz nas células não-excitáveis.
O problema é que sendo permeável também ao sódio, as células nervosas jamais alcançarão qualquer tipo de equilíbrio eletroquímico, ou seja, o K+  sai da célula, porém, como o íon Na+ é mais permeável através da  membrana e como está mais concentrado fora da célula, ele tenderá a entrar na célula. Parte das cargas positivas (K+) que saíram deixando de “neutralizar” proteínas aniônicas do citoplasma, será “substituída” por cargas igualmente positivas, os íons Na+, e, deste modo, o citoplasma não ficará tão negativo. Consequentemente, mais íons K+ poderão sair. O processo se repetiria até que as concentrações de K+ fiquem iguais dentro e fora. Neste caso, com gradientes nulos, a DDP entre os compartimentos também seria zero, e o potencial de repouso desapareceria. Como há esse equilíbrio de gradientes iônicos ocorrendo nos neurônios, reconhecemos que algum outro processo está atuando no sentido de manter os gradientes estáveis, constantes. 
Quem faz isso é a Bomba Sódio-Potássio ATPase, descoberta em 1957 por Jens Skou (1997). Esta complexa estrutura protéica localizada nas membranas das células vivas é um carreador de transporte ativo. Assim, este carreador liga-se a 3 íons Na+ na face citoplasmática (além do ATP), e 2 íons K+ na face extracelular. A energia química liberada do ATP hidrolisado permite que o carreador mude sua forma conformacional que permite que os íons citoplasmáticos sejam levados para fora, e, simultaneamente, os íons extracelulares para dentro da célula.
O potencial de repouso das células excitaveis nunca atigem um equilíbrio pois há mais de um íon permeável a membrana: é necessário, então, a intervenção da Bomba NA+K+ATPase, que consome energia.
   Fonte: Quillfedt, J. A. 2005


 Assim, a tendência natural dos íons de sódio e potássio é de se difundir pela membrana, impelidos por seus gradientes eletroquímicos, em busca de seus respectivos potenciais de equilíbrio. O sódio entra na célula e o potássio sai. Por causa dos canais de repouso de potássio, sempre abertos, a membrana plasmática é aproximadamente cem vezes mais permeável ao potássio do que ao sódio, ou seja, mais íons de potássio saem da célula do que íons de sódio entram na célula. Essa predominância de saída de íons de potássio leva a uma hiperpolarização da membrana, que estabelece o valor do potencial de repouso de membrana em aproximadamente -70 mV.
Quando há estímulo chega a um receptor ou terminação nervosa, sua energia causa uma inversão temporária de cargas na membrana plasmática do neurônio. Como conseqüência, a diferença de potencial, antes de -70 mV entre o interior e o exterior da célula passa a ser positiva, com o valor aproximado de +40 mV. Isso é conhecido como potencial de ação e, nessa condição, a membrana é dita despolarizada. Essa despolarização ocorre porque os canais da membrana do axônio mudam sua conformação espacial e, assim, se abrem ou se fecham, dependendo da voltagem entre os dois lados da membrana. São, por esse motivo, chamados canais voltagem-dependentes.
Em um gráfico, a hipérbole é assimétrica, com uma ascenção (despolarização) rápida e uma descida (repolarização) mais lenta e com certas peculiaridades, como o fato de que, antes de atingir o repouso, ficar hiperpolarizado por algum tempo. A fase de repolarização do PA é mais complexa e demorada que a de despolarização, por isso a assimetria, e inclui uma demora em retornar ao valor do repouso.
Ao mesmo tempo em que ocorre um potencial de ação, há um período denominado Período Refratário, uma fase na qual a célula fica menos excitável, ou seja, se tentarmos forçar um segundo estímulo para a formação de um potencial de ação, enquanto o primeiro ainda estiver em andamento, nada acontecerá. O período refratário inicia-se logo após o estímulo que provoca a despolarização que leva ao potencial de ação, e encerra-se no meio do potencial pós-hiperpolarização.
O período refratário se divide em duas subfases: o período refratário absoluto, durante o qual nenhum tipo de estímulo consegue produzir um segundo evento de PA; a seguir, vem o período refratário relativo, etapa em que um novo PA pode ser provocado se a intensidade do estímulo despolarizante for mais alta que a normalmente usada para causar um PA, e este segundo evento se “acumula” sobre o anterior.
O potencial de ação é um fenômeno considerado “tudo ou nada”, pois ele só se dar quando a despolarização ultrapassa o valor do limiar, caso contrário, não acontece. E, também é sugerido pelo período refratário, ou seja, a resistência do neurônio em iniciar um segundo evento após iniciado o primeiro, sugere que cada PA, de alguma forma, consome todos os recursos disponíveis na célula, não podendo ser estimulado novamente enquanto o primeiro evento não se concluir.
Fases do potencial de ação.
 Fonte: Quillfedt, J. A. 2005


As células neurais reais, geralmente o potencial de ação é iniciado no cone de implantação do axônio, em uma região conhecida como zona de gatilho, onde abundam os Canais Com Portões (CCPs) de Na+ prontos para disparar . É nesta região que o limiar é atingido, e a decisão, tomada. Tal computação analógica é feita mediante o somatório de diversos pequenos potenciais sinápticos oriundos de diferentes pontos da árvore dendrítica do neurônio, que é onde são “coletadas” as sinapses que vêm de milhares de outros neurônios.
Em cada sinapse sobre a árvore dendrítica, a porção pós-sináptica, posicionada sobre uma estrutura subcelular especializada chamada de espinho dendrítico, o potencial de ação chega e desencadeia uma série de eventos neuroquímicos que resultarão em sua excitação (despolarização) ou inibição (hiperpolarização). Em suma, a chegada do PA abre canais de cálcio dependentes de voltagem na terminação (telodendro) ou porção pré-sináptica. A entrada destes cátions divalentes aciona diversas respostas, entre elas, a mobilização e exocitose de vesículas contendo os quanta de neurotransmissores químicos característicos daquele neurônio.
Os neurotransmisores, por sua vez, invadem a fenda sináptica e atingem certos alvos moleculares (pelos quais têm alta afinidade) na porção pós-sináptica, os chamados receptores. Os receptores podem ser, ou canais iônicos propriamente ditos (receptores ionotrópicos), ou mediadores de transdução transmembrana sem nenhum tipo de transporte em particular (receptores metabotrópicos); ambos tipos, porém, acabam por produzir – direta ou indiretamente – uma variação no potencial elétrico local nas proximidades daquela sinapse.
Se os receptores levarem à despolarização local, são ditos excitatórios; caso contrário, se a hiperpolarizarem, são ditos inibitórios. Por exemplo, canais com portão para o Na+ ativados por neurotransmissor (digamos, o glutamato) são receptores ionotrópicos excitatórios, pois despolarizam a região pós-sináptica (o mesmo acontece com CCPs de Ca++ ativados por ligante); por outro lado, canais com portão para o Cl-  ativados por ligante (por exemplo, o GABA) são receptores ionotrópicos inibitórios, pois hiperpolarizam a região pós-sináptica (aqui também ocorreria o mesmo se fossem CCPs de K+ ativados por ligante).

Tabela 1
Diferença entre os potenciais eletrotônico e de ação.
     Fonte: Quillfedt, J. A. 2005


REFERÊNCIAS

Quillfeldt, J. A. (2005). Origem dos potenciais elétricos das células nervosas.

Krueger-Beck, E., Scheeren, E. M., Nogueira-Neto, G. N., Button, V. L. D. S. N., Neves, E. B., & Nohama, P. (2011). Action potential: from excitation to neural adaptation. Fisioterapia em Movimento24(3), 535-547.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Olfação dos insetos.

Nos insetos, os receptores olfativos situam-se nas antenas, que possuem poros cuticulares minúsculos (sensilas), através dos quais as ramificações dendríticas da célula sensorial são postas em contato com o ar. Além das antenas, a recepção olfativa também pode ser realizada através das sensilas presentes nos palpos maxilares ou labiais.

Esquema do palpo e das antenas de insetos.Fonte: http://recursostic.educacion.es/ciencias/biosfera/web/alumno/2ESO/

Reprodycoordinacion/contenidos11.htm


As sensilas estão associadas com a resposta dos neurônios as diferentes classes de compostos químicos. São bem diversificadas e, cada sensila olfativa apresenta uma cavidade distal onde se encontram os dendritos dos neurônios sensoriais olfativos que são banhados diretamente por receptores de moléculas de odor, através de um líquido chamado linfa sensilar. Após a dissolução na linfa,as moléculas de odor são apresentadas à membrana dos neurônios sensoriais olfativos.

Sensilas na antena.
Fonte:  http://www.fiocruz.br/chagas/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=87

Cada neurônio converge em estruturas específicas chamadas de glomérulos e supostamente cada um deles responde a um composto químico ou a um grupo de compostos diferentes. Dois processos estão envolvidos na produção da resposta neuronal, o primeiro é o evento perireceptor (que ocorre ao redor do neurônio sensorial): a captura e transporte de moléculas de odor para a membrana do dendrito; o segundo é a transdução: a conversão da energia química em energia elétrica a partir do contato das moléculas odoríferas com a membrana do dendrito.
A perirecepção se inicia com a captura por combinação ou dissolução das moléculas de odor na gordura que forma a cutícula que recobre a sensila; posteriormente, há o transporte desse composto odorífero próximo à membrana do dendrito, nesta etapa combina-se com proteínas específicas; depois há a fixação do composto odorífero a um receptor localizado na membrana do dendrito do neurônio sensorial, iniciando o processo de transdução, ou conversão da energia química em energia elétrica. Os receptores são bastante específicos a cada tipo de molécula de odor, e esta especificidade depende da capacidade discriminatória do inseto aos diferentes odores. A captura da molécula pelo receptor causa a despolarização da membrana, originando um potencial receptor. Uma vez completado o estímulo, o composto odorífero é hidrolisado por uma enzima.


Esquema funcional do cérebro de insetos.
Fonte: http://ocerebrodamosca.wordpress.com/2013/01/05/corpos-de-cogumelo-aprendizagem-e-memoria-em-insetos/

Fonte:
LORENZO, Marcelo Gustavo; MELO, Ana Claudia do Amaral. Tópicos Avançados em Entomologia Molecular, Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular; Olfação e comportamento,cap. 9, 2012. 
Disponível em: www.inctem.bioqmed.ufrj.br

GULLAN, J.P.; CRANSTON, S.P. Os insetos: um resumo de entomologia, 3ed. São Paulo: Roca, 2008, 85p.

WILLIAM E. Anatomia Fisiologia Insectos.Sensorios. Versión01.T17. Disponível em: http://www.lamolina.edu.pe/profesores/wdale/anat_fisiol_insect/ANATOMIA%20FISIOLOGIA%20INSECTOS.%20SENSORIOS.%20VERSI%C3%93N%2001.T17.%20WILLIAM%20E.pdf


Acessado em 14 de dezembro de 2013