sábado, 14 de dezembro de 2013

Vacina do sapo, um veneno que pode ser saudável?



     Remédio ou veneno? Uma substância extraída de um sapo da Amazônia vem sendo usada como um suposto remédio pra várias doenças, porém não se tem estudos ainda que comprovem se todas as substâncias existentes neste veneno possuem eficácias na medicina.
      A Phyllomedusa bicolor, conhecido popularmente como "Sapo Kambô", é um anfíbio da família Hylidae, famílias das pererecas, encontrado na Amazônia. É conhecido devido a utilização do seu veneno na medicina tradicional. É a maior espécie do gênero, podendo chegar a 11,8 cm de comprimento e também um dos maiores hilídeos da Amazônia.

Sapo Kambô.

O veneno do Kambô é utilizado pelos indígenas como uma forma de medicina natural e acreditam que este veneno fortalece o sistema imunológico e afastar o "Panema" - má sorte. Com a colonização no norte, os seringueiros aprenderam a usar essa técnica e atualmente a aplicação da vacina-do-sapo já ocorre em várias regiões do Brasil. Para aplicar a vacina-do-sapo é necessário queimar o braço e tórax (homens) ou perna (mulheres) com uma ponta de um pequeno cipó fazendo vários pontos. O veneno é então aplicado nessas pequenas queimaduras. Os sintomas são quase imediatos e a pessoa sente um forte calor, náuseas, dor no estômago, vômitos e outros desconfortos. A ação do veneno dura em média 15 minutos.

     

Aplicação da vacina-do-sapo.


     A pele dos anfíbios exerce mais funções além de ser uma estrutura de revestimento, desempenhando principalmente o transporte de água e solutos, auxiliando na respiração, regulação da temperatura corporal e defesa contra o ataque de microorganismos e predadores. Apresentam duas glândulas, uma mucosa que secreta muco para manter a umidade da superfície do muco favorecendo a respiração cutânea; outra granulosa, frequentemente é tóxica ou repelente, é responsável pela defesa passiva dos anfíbios. A secreção das glândulas granulosas apresenta um aspecto viscoso e leitoso e ocorre, normalmente após estresse ou injúria. Esta glândula é controlada por inervação simpática e seu conteúdo é secretado sob regulação neuronal, possivelmente neuropeptídeos. 

     As glândulas granulosas ou de veneno são responsáveis pela síntese e armazenamento de uma grande diversidade de compostos químicos que apresentam propriedades antibióticas e atuam na defesa de microorganismos. Quimicamente, esses compostos, podem ser agrupados em cinco classes: aminas biogênicas, peptídeos, proteínas proteolíticas, alcaloides e esteróides. Estudos feitos com as secreções obtidas da pele de anfíbios, indicaram que representantes das famílias de Hylidade apresentam compostos de aminas, peptídeos e proteínas. 






Ocorrência de compostos bioativos encontrados entre os representantes da anfibiofauna: (+) presente, (-) ausente, (o) ocorrência não avaliada.



As aminas biogênicas são mediadores químicos bastante comuns entre os animais. Apresentam estrutura química e ações farmacológicas bastante diversificadas. Uma dessa estrutura química encontrada na família desse anfíbio é a amina indólica que tem a atividade farmacológica ligada a ação estimulante em musculatura lisa. Assim, os músculos lidos extravasculares são contraídos pela ação dessas substâncias. Podem alterar, também, a função motora do trato gastrointestinal, termorregulação e induz a secreção de catecolaminas pelas glândulas supra-renais. As catecolaminas são representadas pela epinefrina, norepinefrina, dopamina e epinina e apresentam uma ação vasopressora potente causando um aumento nas taxas cardíacas e respiratória. Em altas taxas podem causar espasmos, vômitos e convulsões.

Outra amina encontrada na secreção dos representantes de Hylidae foi às histaminas que podem provocar reações alérgicas como urticária, irritação nas mucosas nasais e oculares, lacrimejamento e espirros.



Estrutura química das aminas encontradas nos anfíbios.



     As substâncias mais abundantes encontrada nos indivíduos de Phyllomedusa bicolor são os peptídeos com características vasoativas -adenoregulina, além desta também foram encontrada substâncias como os peptídeos opióides. Estas substâncias podem provocar um estado de letargia que supera os efeitos da morfina ou apatia duradoura em ratos. Nos humanos não há ainda estudos que comprovem os efeitos causados pelos peptídeos opióides.

     Estes peptídeos apresentam cargas positivas, podendo formar hélices anfifílicas de comprimento variando de um peptídeo para outro, possuindo habilidade de se autopolimerizar formando longos filamentos com os grupamentos hidrofílicos para o interior e os hidrofóbicos em contanto com as partes lipofílicas da membrana.

     Em resumo a parte positiva do peptídeo interage com os fragmentos lipídicos, induzindo a formação de alfa-hélice e polimerização. O complexo supramolecular em alfa-hélice liga-se superficialmente a região hidrofóbica e começa a penetrar a membrana permitindo a entrada dos íons de cloro e o efluxo de hidroxilas e potássio despolarizando a membrana e provocando um potencial de ação. Assim, os indivíduos de Phyllomedusa bicolor obtêm sucesso para seu propósito - a proteção contra indivíduos. Agindo desta forma o veneno desacopla a respiração dos microorganismos resultado na morte destes.


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